quinta-feira, 14 de julho de 2016

O Prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos no Vaticano, Cardeal Robert Sarah, proferiu a conferência inaugural do evento Sacra Liturgia UK 2016, que aconteceu em Londres entre os dias 5 e 8 de julho.
http://www.cursoscatolicos.com.br/2012/03/curso-passos-para-uma-reforma-liturgica.html
O discurso não é longo; recomendamos sua leitura na íntegra aqui: http://www.movimentoliturgico.org/discurso-na-integra-do-cardeal-sarah/
A intenção do Cardeal, conforme expõe no discurso, é propor "considerações sobre como a Igreja Ocidental pode caminhar rumo a uma implementação mais fiel da Sacrosanctum Concilium". Isso significa - é óbvio - que as reformas litúrgicas desejadas pelo Concílio Vaticano II (1962-65) não foram satisfatoriamente implementadas.
Um efeito colateral da reforma litúrgica oficial (a dos documentos) foi a deformação litúrgica na prática. Constata o Cardeal que:
"em décadas recentes temos visto muitas celebrações litúrgicas onde o povo, personalidades e conquistas humanas têm sido proeminentes demais, quase ao ponto da exclusão de Deus."
 E é da volta da centralidade de Deus na liturgia que trata o discurso. Para isso, o Cardeal Sarah propõe, além da conversão interior, algumas práticas externas que ajudariam a nortear a liturgia.
Foram estas sugestões - que não são mudanças na liturgia oficial, pois já estão previstas no Missal - que tiveram grande repercussão na imprensa, dando a entender a alguns que haveriam mudanças obrigatórias.
Tal foi o rebuliço que a Sala de Imprensa do Vaticano emitiu comunicado, corrigindo algumas interpretações, basicamente esclarecendo que não há nenhuma mudança, mas gerando outras confusões, que não vem ao caso, devido a algumas palavras/opiniões do Pe. Lombardi (que deixa o cargo de porta-voz no dia 1º/8/2016).

Enfim, reiteramos que seja lida a transcrição da conferência, bela e clara. Abaixo destacamos alguns trechos e também indicamos o vídeo com a opinião do prof. Michel Pagiossi e os esclarecimentos do Pe. José Eduardo.
As sugestões do Cardeal Sarah não são nenhuma novidade; tanto que já sugerimos as mesmas coisas desde 2010 no livro "A reforma litúrgica de Bento XVI: Passo-a-passo para a comunidade" e no curso online "Passos para uma reforma litúrgica local".
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"Deus, não o homem, está no centro da liturgia católica. Viemos adorá-lo. A liturgia não é sobre você e eu; não é onde celebramos nossa própria identidade ou conquistas ou onde exaltamos ou promovemos nossa própria cultura e costumes religiosos locais."

"É essencial que compreendamos esta especificidade do culto católico, pois em décadas recentes temos visto muitas celebrações litúrgicas onde o povo, personalidades e conquistas humanas têm sido proeminentes demais, quase ao ponto da exclusão de Deus. Como o Cardeal Ratzinger escreveu uma vez: “Se a liturgia aparece antes de tudo como uma oficina (um workshop) para nossa atividade, então aquilo que é essencial foi esquecido: Deus. Pois a liturgia não é sobre nós, mas sobre Deus. Esquecer Deus é o perigo mais iminentes de nossa era”.

"Eu sou africano. Deixem-me dizê-lo claramente: a liturgia não é o lugar de promover minha cultura. Melhor, é o lugar onde minha cultura é batizada, onde minha cultura é levada para o divino. Através da liturgia da Igreja (que os missionários levaram por todo o mundo) Deus fala a nós, muda-nos e torna-nos capazes de participar de sua vida divina."

"Mas da minha experiência eu também sei – agora também através do meu serviço como Prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos – que há muitas distorções da liturgia em toda a Igreja hoje, e que há muitas situações que poderiam ser melhoradas para se alcançar as metas do Concílio."

"às vezes transparece uma compreensão muito redutiva do mistério eucarístico. Despojado do seu valor sacrificial, é vivido como se em nada ultrapassasse o sentido e o valor de um encontro fraterno ao redor da mesa." (São João Paulo II)

"Podemos ter construído uma muito nova e moderna liturgia em vernáculo, mas se não lançamos os fundamentos corretos, se nossos seminaristas e clérigos não estão “imbuídos plenamente do espírito e da virtude da liturgia” como o Concílio pediu, então eles não podem formar o povo confiado a seu cuidado. "

"Eis por que aqueles que estão “em formação” para o ministério pastoral devem viver a liturgia tão plenamente possível em seus seminários e casas de formação. Candidatos ao diaconato permanente deveriam também ter uma imersão numa intensa vida litúrgica por um período prolongado. E, acrescento, que a plena e rica celebração do uso mais antigo do Rito Romano, o usus antiquor, possa ser uma parte importante da formação litúrgica para o clero, pois como podemos compreender ou celebrar os ritos reformados com uma hermenêutica de continuidade se nunca experimentamos a beleza da tradição litúrgica que os próprios Padres do Concílio conheceram?"

"Se entendemos a prioridade de internalizar nossa participação litúrgica evitaremos o ativismo litúrgico perigoso e barulhento que tem sido tão proeminente em décadas recentes. Não vamos para a liturgia para apresentar algo, fazer coisas para os outros verem: nós vamos para estar conectados com a ação de Cristo por meio de uma internalização dos ritos, orações, sinais e símbolos litúrgicos externos."

"De fato, posso dizer que quando fui recebido em audiência pelo Santo Padre em abril passado, o Papa Francisco pediu-me para estudar a questão de uma reforma da reforma e de como enriquecer as duas formas do Rito Romano. Será um trabalho delicado e peço a paciência e as orações de vocês."

"Devemos lembrar que não somos os autores da liturgia, somos seus humildes ministros, sujeitos à sua disciplina e suas leis. Também somos responsáveis por formar aqueles que nos assistem em ministérios litúrgicos tanto no espírito como na virtude da liturgia e também em suas regras. Algumas vezes tenho visto sacerdotes ficarem de lado para deixar ministros extraordinários distribuírem a Sagrada Comunhão: isto está errado, é uma negação do ministério sacerdotal bem como uma clericalização dos leigos. Quando isso acontece é um sinal de que a formação aconteceu de forma muito errada e que precisa ser corrigida."

"Quero fazer um apelo a todos os sacerdotes. Vocês podem ter lido meu artigo em L’Osservatore Romano há um ano atrás (12/06/2015) ou minha entrevista com o jornal Famille Chrétienne em maio deste ano. Em ambas as ocasiões eu disse que creio ser muito importante que retornemos o quanto antes possível para uma comum orientação, dos sacerdotes e fiéis voltados juntos na mesma direção – para o oriente ou pelo menos para a abside – para o Senhor que vem, naquelas partes dos ritos litúrgicos em que estamos nos dirigindo a Deus. Esta prática é permitida pela legislação litúrgica corrente. É perfeitamente legítima no rito moderno. De fato, penso ser isto um passo muito importante para assegurar que em nossas celebrações o Senhor esteja verdadeiramente no centro." (veja aqui como fazer)

"Neste ponto, repito o que eu disse noutra ocasião, que o Papa Francisco pediu-me para continuar a obra litúrgica iniciada pelo Papa Bento (cf. mensagem para o Sacra Liturgia USA 2015, Nova Iorque). Só porque temos um novo papa não significa que a visão de seu predecessor agora é inválida. Pelo contrário, como sabemos, nosso Santo Padre, o Papa Francisco, tem o maior respeito pela visão litúrgica e pelas medidas que o Papa Bento implementou em total fidelidade às intenções e metas dos Padres Conciliares."

"devemos cantar a liturgia, devemos cantar os textos litúrgicos, respeitando as tradições litúrgicas da Igreja e regozijando no tesouro da música sacra que é nosso, mais especialmente aquela música própria do Rito Romano, o canto gregoriano. Devemos cantar a música litúrgica sagrada, não meramente música religiosa, ou pior, canções profanas."

"Devemos fazer o justo equilíbrio entre as línguas vernáculas e o uso do latim na liturgia. O Concílio nunca quis que o Rito Romano fosse exclusivamente celebrado em vernáculo. Mas quis permitir um aumento do seu uso, particularmente para as leituras. Hoje seria possível, especialmente com os modernos meios de impressão, facilitar a compreensão de todos quando o latim for usado, talvez na Liturgia Eucarística".

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Curso "Passos para uma reforma litúrgica local":
http://www.cursoscatolicos.com.br/2012/03/curso-passos-para-uma-reforma-liturgica.html
Curso de Canto Gregoriano:
http://www.cursoscatolicos.com.br/2014/05/curso-de-canto-gregoriano.html
Curso de Latim:
http://www.cursoscatolicos.com.br/2014/05/curso-de-canto-gregoriano.html
            

quinta-feira, 7 de julho de 2016

Extraído do Curso online "Passos para uma reforma litúrgica local" 


 Há quem ache que o Concílio Vaticano II modificou a posição do altar e do sacerdote em relação ao povo, proibindo a prática anterior dos altares na parede e da celebração “de costas” para o povo. A questão toda começa com a norma da IGMR que diz: “Onde for possível, o altar principal deve ser construído afastado da parede, de modo a permitir andar em volta dele e celebrar a Missa de frente para o povo.” A expressão “onde for possível” claramente diz não tratar-se de uma obrigação, mas assim foi entendido na prática por muitos padres e bispos.
O mesmo Missal continua a desmentir essa interpretação quando encontramos nele algumas rubricas que dizem que o sacerdote deve, em alguns momentos, “ voltar-se para o povo”; isto significa que, se deve voltar-se ao povo, é porque antes não estava voltado para o povo. Também é esta orientação espacial “versus Deum” que se tem em conta quando se diz à direita ou à esquerda do altar. Voltados ao Oriente
A forma histórica de oferecimento da Missa, observada inclusive pelos ritos orientais, é “ad Orientem”, voltados para o Oriente, que é Cristo, ou “versus Deum”. Litúrgica e teologicamente, o sacerdote voltado para o Altar não dá as costas para o povo, ao contrário, ele volta-se como o primeiro dentre os fiéis para oferecer o Sacrifício a Deus pelo povo.
Celebrar ad orientem, como a Igreja fez por séculos, não está proibido, e expressa a centralidade de Deus no culto litúrgico, não a centralidade de uma padre a conversar com o povo. É com este espírito que Bento XVI liberou para toda a Igreja a celebração da Santa Missa na forma antiga, e tem celebrado, sempre que possível, ad orientem.

Veja também: Cardeal Sarah propõe importante mudança para a Missa a partir do Advento 2016

 Dom Mauro Gagliardi dá indicações práticas para reaver a centralidade de Deus no culto: “Se, portanto, o uso da celebração versus populum tem certos aspectos positivos, deve-se, todavia, reconhecer também as suas limitações: em particular o risco de criar um círculo fechado entre o ministro e os fiéis, que relega a segundo plano logo Aquele para quem todos devem olhar com fé durante o culto litúrgico. É possível ir contra os riscos fazendo voltar à oração liturgica a sua orientação, particularmente quanto à Liturgia Eucarística. Enquanto a Liturgia da Palavra tem sua forma mais apropriada com o sacerdote voltado para o povo, parece pastoral e teologicamente mais apropriado usar a opção – reconhecida pelo missal de Paulo VI em suas várias edições – de continuar a celebrar a Eucaristia voltado para o Crucificado. Isto pode ser feito, na prática, de vários modos, inclusive colocando a imagem do Crucificado no centro do altar da celebração versus populum, de modo que todos, sacerdote e fiéis, possam olhar para o Senhor durante a celebração de seu Santo Sacrifício.”
Deve-se estudar prudentemente a oportunidade de se celebrar ad Orientem, que deve ser acompanhada de catequese. Pode ocorrer também que o espaço físico não permita esta disposição. Nestes casos de impossibilidade, o crucifixo no centro do altar e a disposição do olhar, refletindo a da alma, garantirão a centralidade de Deus no culto.

Passo a passo:

Onde for adotada a Missa versus Deum, eis o modo de celebrar, segundo o atual Missal Romano:
1. Depois da entrada, o sacerdote vai para a Cadeira, de lá celebra, voltado para o povo, do Sinal da Cruz até a Oração do dia.
2. Terminado os ritos iniciais, todos se sentam. As leituras são proclamadas do ambão. A homilia é feita do ambão ou da cadeira.
3. Da cadeira o sacerdote preside a Profissão de fé e a Oração Universal ou dos fiéis.
4. O sacerdote senta-se enquanto o diácono ou acólito prepara o altar. Se há procissão, o sacerdote recebe os dons e repassa a seu ajudante.
5. O sacerdote volta-se ao Altar com a devida reverência e conclui as oferendas.
6. Voltando-se para os fiéis, diz “Orai irmãos e irmãs...” e depois da resposta volta-se ao Altar, e assim permanece.
7. Nas elevações do Corpo e do Sangue, o sacerdote eleva acima da cabeça, para que os fiéis vejam.
8. Após genuflectir, o sacerdote volta-se para o povo e diz “Eis o mistério da fé” a que o povo responde com a fórmula prevista. Volta-se ao Altar e continua assim até “Eis o Cordeiro de Deus...”, quando apresenta ao povo o Pão Eucarístico fracionado.
9. A oração após a Comunhão pode ser feita da Cadeira ou voltado para o Altar.
10. A bênção final é dada voltado para o povo.
Resumindo:
- O sacerdote volta-se para o altar a partir da bênção das oferendas e só se dirige aos fiéis:
1. Na oração “Orai irmãos...”
2. Na aclamação “Eis o mistério da fé”
3. Para saudar com a paz alguns dos presentes, sem sair do presbitério.
4. Na apresentação do Pão fracionado “Eis o Cordeiro de Deus...”
5. Para distribuir a Santa Comunhão
6. Para dar a bênção final.
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